Brasil passa por transformação positiva, diz William Waack

No Brazil GRI 2018, jornalista abordou o cenário político do País e traçou um perfil do governo de Jair Bolsonaro.

9 de novembro de 2018Mercado Imobiliário
Após a corrida eleitoral que levou o militar da reserva Jair Bolsonaro (Partido Social Liberal - PSL) à Presidência da República, o Brasil passa por "um momento de profunda transformação", avalia o jornalista e cientista político William Waack. Para ele, essa não foi uma eleição entre direita e esquerda, mas antissistema.

"De fato, vamos escrever um diário. Estamos vivendo um momento de profunda transformação, em um sentido positivo. Quebramos um sistema", opinou Waack durante participação em painel do Brazil GRI 2018.

"O que vimos durante essa campanha foi uma guerra cultural. Pela primeira vez, observei uma eleição baseada em valores morais; porém, não houve discussão a respeito do desastre para o qual fomos levados", pontuou o jornalista que tem larga experiência em coberturas eleitorais, referindo-se às gestões do Partido dos Trabalhadores (PT).

O novo presidente

Jair Bolsonaro | Divulgação
Jair Bolsonaro | Divulgação

Na análise de Waack, a paralisação de caminhoneiros, em maio passado, e a possibilidade de soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve temporariamente habeas corpus concedido no dia 06 julho passado, foram fatores cruciais para reverter a imagem inicialmente negativa do então presidenciável junto aos militares, abrindo espaço para receber apoio desse grupo.

"Para a alta patente das Forças Armadas, Bolsonaro era visto como alguém que não respeita a hierarquia, não passou pela escola de formação. Contudo, a partir da greve dos caminhoneiros e depois daquele domingo em que Lula poderia ser solto, fortaleceu-se a ideia de que estávamos navegando para o caos, o que fez com que [o alto clero] abraçasse a candidatura [do PSL] com entusiasmo, visto que ele seria o freio à esquerdização e não deixaria o País escorregar", afirmou.

Waack apontou ainda que "Bolsonaro é resultado de uma onda importante e será tão bem-sucedido quanto essa onda for capaz de conduzi-lo".

Para o jornalista, o futuro chefe de Estado também precisa apressar o passo e mostrar sua capacidade administrativa. Na coletiva de imprensa no último dia 06 de novembro, "ele demonstrou que ainda está em campanha, respondendo a questões de forma improvisada; entretanto, há uma linha do tempo na política e ele já está sendo cobrado. Bolsonaro tem que crescer dentro de seu papel. Se ele entender isso, teremos mudanças positivas."

A liga dos 'superministros'

Palácio do Planalto | Wilson Dias/ Agência Brasil
Palácio do Planalto | Wilson Dias/ Agência Brasil

Questionado sobre a escolha e o papel dos ministros anunciados até o momento, William Waack fez uma análise política sobre os principais, mostrando os pontos que considera positivos e indicando o que será necessário acompanhar ao longo da gestão.

"Tenho dúvidas sobre um parlamentar comandar a Casa Civil. A nomeação [de Onyx Lorenzoni, anunciado como titular da pasta] sugere que essa seria a primeira instância de ligação entre o Executivo e o Legislativo. Porém, a Casa Civil representa muito mais do que isso. No Brasil, o ministro-chefe da Casa Civil tem um papel de primeiro-ministro e deve coordenar todos os ministérios, não apenas no âmbito parlamentar, mas o governo como um todo", pontuou.

Sobre Paulo Guedes, estrategista do programa econômico da campanha presidencial e futuro ministro da Fazenda, Waack sinalizou que ele precisará ser um bom articulador. "Guedes tem uma ideia na cabeça, mas dependerá de uma articulação política muito mais ampla do que os 308 votos necessários [na Câmara dos Deputados, para dar andamento às propostas anunciadas]".

Para atacar a crise fiscal, promover as reformas que propõe e a agenda liberal, o economista deve atuar junto a todos os setores envolvidos. "Ainda não sei se está claro para Paulo Guedes, mas ele terá que desenvolver uma capacidade ampla para implementar a proposta de redução do tamanho do Estado e melhoria do ambiente de negócios."

Já a respeito de Sérgio Moro, que assumirá a pasta da Justiça, Waack diz que, "embora se autodefina como um 'superministro' técnico, em sua primeira coletiva [após aceitar o cargo, no dia 06 de novembro], deixou claro que entende o seu papel político".

"Moro é um estrategista. Ele teve a capacidade de entender a mudança e a necessidade de mudar. Durante a Lava Jato, constatou-se que os políticos eram todos 'farinha do mesmo saco'. Agora, ele ingressa para a política, com o papel de mostrar que é possível regenerar-se de dentro para fora", afirmou Waack.

"Ele seria um juiz de primeira instância deixado para trás, visto que agora o julgamento segue em instâncias superiores. Hoje, Moro transforma-se em um grande protagonista político", complementou.

Sobre o Brazil GRI

William Waack trouxe sua visão acerca da futura gestão nacional na 9ª edição do Brazil GRI, principal evento de lideranças do setor imobiliário, realizado nos dias 06 e 07 de novembro, no hotel Grand Hyatt São Paulo. O painel sobre o cenário político e perspectivas para o próximo ano foi moderado por Bruno Sindona, da Sindona Incorporadora.

Confira outros detalhes e a cobertura completa do evento.